Home /

Oito minutos

Oito minutos

Por admin

2 minutos de leitura

Nos últimos meses, com o isolamento social, diversos cursos da Escola Doutores da Alegria foram afetados e estão passando por adequações. Entre eles, o Programa de Formação de Palhaço para Jovens, curso mais extenso, que está acontecendo por meio de aulas remotas. Esta turma do curso é predominantemente composta por negros e negras, que têm suas vidas em constante perigo e, se não bastasse, agora tem um vírus que é mais letal entre a população pobre e negra, como apontam os órgãos de saúde.

Doutores da Alegria conseguiu manter a bolsa que todos os estudantes recebem, além de uma cesta básica, resultado da parceria com a ONG União SP que, por meio da estrutura oferecida, permite que estes jovens possam ficar em casa, estudando com segurança, em tempos tão críticos. Assim estamos conseguindo manter a participação nas aulas de 95% por parte dos estudantes, o que demonstra que tais resultados são bem diferentes do que está acontecendo nas escolas de educação básica e de arte pelo Brasil.

Este é um lado da moeda: conseguimos dar uma estrutura básica, em respeito à dignidade humana. Nas aulas, cantamos, dançamos, aprendendo música, palhaçaria, enfim, estamos conectados, porém, os relatos diários que os estudantes trazem têm um lado de esperança e outro desolador. Temos que parabenizar toda a organização que está se empenhando para que não percamos nenhum estudante neste momento e, em especial, todo nosso respeito e gratidão à nossa assistente social e aos professores e professoras que estão mantendo as aulas, num trabalho exaustivo de criação para oferecer aos alunos conteúdos significativos nas aulas remotas.

Em linhas gerais, os relatos mostram que eles e elas estão conseguindo ficar em casa, mas que, da porta para fora existe a violência social, policial, política, que mata, acabando com qualquer narrativa saudável. São obrigados, desde cedo, a ter uma sanidade mental poderosa. Mas não se enganem: são jovens de muito talento e opinião, e a arte é nosso viés de conexão, vamos com ela porque ainda é um dos únicos e verdadeiros elos que conseguimos trocar e fortalecer.

foto: REUTERS/Caitlin Ochs

É neste momento tão delicado que estamos vivendo que chega a notícia do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. Como não nos afetar com suas últimas palavras?

“Cara, meu rosto
Eu não fiz nada grave
por favor
por favor
por favor, eu não consigo respirar
por favor, cara
por favor, alguém
por favor, cara
Eu não consigo respirar
Eu não consigo respirar
por favor
(inaudível)
cara, eu não consigo respirar, meu rosto
sai de cima
Eu não consigo respirar
por favor (inaudível)
Eu não consigo respirar, droga
Eu vou
Eu não consigo me mexer
mãe
mãe
Eu não consigo
meu joelho
meu saco
eu vou morrer
eu vou morrer
Me sinto claustrofóbico
meu estômago dói
meu pescoço dói
tudo dói
alguém me dê água ou algo
por favor
por favor
eu não consigo respirar, policial
não me mate,
cara, eles vão me matar
por favor
Eu não consigo respirar
Eu não consigo respirar
eles vão me matar
eles vão me matar
Eu não consigo respirar
Eu não consigo respirar
por favor, senhor
por favor
por favor
por favor, eu não consigo respirar”

George fechou os olhos e as súplicas pararam. Ele foi declarado morto pouco tempo depois. Foram 8 minutos e 46 segundos. George Floyd, negro, 46 anos, ficou com um joelho em seu pescoço, imobilizado, foi asfixiado, enforcado por um policial branco enquanto dizia “Não consigo respirar”. Experimente fechar os olhos e pense ser sufocado durante 8 minutos e 46 segundos – ou tente assistir ao vídeo inteiro, que está espalhado pela rede, e respirar enquanto vê.

João Pedro, 14 anos, negro, estava na casa dos tios em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, cumprindo a quarentena. Foram setenta tiros dentro da casa em que o adolescente se encontrava. Ele recebeu tiros nas costas. A polícia levou seu corpo e a família só teve notícias 17 horas depois.

Você que está em casa agora, lendo isso em quarentena, consegue imaginar 70 tiros invadindo seus ouvidos? Sangue por todos os lados, massacre, assassinato em sua casa. Dói em pensar, né? Pois é, as duas famílias sentem essa dor, mas não estão sozinhas, muita gente se compadece dessa dor, e isso não é novo.

Os negros, as negras e os povos indígenas deste país não conseguem respirar!

#ParemDeNosMatar, #BlackLivesMatter ou #VidasNegrasImportam são chamados, ações que mobilizam a luta contra o racismo e a desigualdade mundo afora. Nos EUA a situação estourou. Os negros e pessoas antirracistas foram às ruas protestar. Manifestações acontecem agora pelo mundo todo. O combate à onda fascista encontrou abrigo nos protestos contra o racismo, mas a marcha é em prol de justiça para o povo preto. Combater o racismo e combater o fascismo, aqui no Brasil, é a luta legítima contra o fascismo, mas tende a esconder o motivo do povo na rua.

“Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.
Ângela Davis

Mais uma vez o mito da democracia racial coloca a luta do povo preto em segundo e terceiro planos. Os protestos têm sido pacíficos e violentos, é o ser humano reagindo à violência da pior doença social – o “racismo” -, e querem classificar os protestos como “terrorismo”. Lá e aqui, os negros e negras são massacrados pelo estado e instituições privadas: esse é o terrorismo.

O mito da democracia racial faz com que muitos brasileiros naturalizem esse comportamento contra o povo afro ameríndio. Falamos aqui do “racismo estrutural”. Por isso, a morte de João Pedro e tantas vidas negras e indígenas não ganham espaço para discussão, choca nos noticiários e logo cai no esquecimento.

Mas quem chora a dor dos seus (e somos muitos, 56.10%,) não esquece e luta, mas o sistema “necropolítico” (Achille Mbembe) impera. A dor de negros e negras não tem fronteiras. A escravidão dos africanos e seus descendentes esteve e está no mundo todo e o Brasil foi o último país a aboli-la.

A luta por justiça na morte de George, Marielle, João, Marina, Carlos, Miguel etc… está em curso e o povo preto saiu para rua. E aí estamos num impasse, pois o vírus também está na rua, e não por acaso mata mais pessoas negras e pobres, com um sistema de saúde que já estava em colapso.

Já temos o destino de George Floyd acontecendo. Não conseguimos respirar.

Nesse momento, só piorou e botou uma lente no país mais racista do planeta. O Brasil está mostrando a cara para o mundo, com uma classe dominante com pensamento colonizado, racista, eugenista, que faz com que uma imensa parcela de negros e negras não consigam sair dos maiores bolsões da pobreza extrema. “Fiquem em casa”, mas quem pode ter esse luxo? A classe média e alta!  Não sejamos hipócritas, o povão com sua maior parcela de gente negra não pode ficar em casa, os povos indígenas têm suas terras invadidas, são mortos pela violência e pelo vírus, a “gripezinha” já matou mais de 35 mil pessoas e vai matar mais, muito mais. Este vírus é letal e enquanto nós morremos, a classe dominante e seus fantoches assistem em quarentena pela tv, como foi o caso de George Floyd.

Ser ou não ser? Morrer em casa pelo vírus e violência política, policial e social, ou ir para rua brigar pelo direito à vida? A escolha é sempre por paz e pela vida, mas o sistema não está dando opções.

Virão aqueles que vão falar sobre vitimismo.

Virão aqueles que vão dizer que somos todos iguais.

Virão aqueles dizer que estamos todos sofrendo.

Virão aqueles que não conseguem ler um texto desse sem sofrer, e depois vão comer uma pizza.

A cor negra é um marcador social. Se pergunte: Você gostaria de receber o mesmo tratamento que as pessoas negras recebem neste país? Então seja a mudança, não espere morrer mais gente!

Os governos estaduais e municipais estão deliberando, em nome da economia, a volta à rua dos trabalhadores e trabalhadoras. Com isso, estão propondo um genocídio, já que todos os países que flexibilizaram isso antes do tempo tiveram aumento de casos. A expectativa feita por cientistas é que aumentará em 150%, em 10 dias, o número de infectados. Esta escala não vai parar de subir, a situação está longe de ter um fim e esta luta também. Se puder fique em casa, mas não esqueça que tem gente trabalhando para que você fique e, em nome delas, respeite isso.

Mas não se cale, tem gente morrendo. Qual será sua atitude antirracista? Estamos em luta e luto!

Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

VocÊ também pode gostar

0
Would love your thoughts, please comment.x

Politica de privacidade

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

Considerando que:

I – DOUTORES DA ALEGRIA é uma associação civil sem fins lucrativos, e tem como propósito “intervir na sociedade propondo a arte como ‘mínimo social’ para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência. A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da
cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”


II –
Esta política de privacidade, foi elaborada nos termos da Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018 e tem por objetivo a proteção dos dados pessoais que são coletados e gerados quando você se relaciona de alguma forma com a associação DOUTORES DA ALEGRIA. Além disso, explica como seus dados pessoais são usados, compartilhados e protegidos, quais opções você tem em relação aos seus dados
pessoais e como você pode nos contatar.

1. A quem se aplica?

Se você está lendo este documento, esta política se aplica a você. As orientações
mencionadas se aplicam aos dados coletados de parceiros, doadores, alunos,
prestadores de serviços, associados, fornecedores, sócios da alegria, público em
geral, diretores, conselheiros, consultores, empregados da associação DOUTORES
DA ALEGRIA.

2. Definições e termos:

Alguns termos que irão ajudar você a entender todas as orientações desta política:

Tipos de dados:

Dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável;

Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção
religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de
seu tratamento;

Banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou
em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;

Titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de
tratamento;

Uso dos dados

Acesso: Ato de ingressar, transitar, conhecer ou consultar a informação, bem como possibilidade de usar os ativos de informação de um órgão ou entidade, observada eventual restrição que se aplique;

Armazenamento: Ação ou resultado de manter ou conservar em repositório um dado;

Arquivamento: Ato ou efeito de manter registrado um dado embora já tenha perdido a validade ou esgotado a sua vigência;

Avaliação: Analisar o dado com o objetivo de produzir informação;

Coleta: Recolhimento de dados com finalidade específica;

Controle: Ação ou poder de regular, determinar ou monitorar as ações sobre o dado;

Difusão: Ato ou efeito de divulgação, propagação, multiplicação dos dados;

Distribuição: Ato ou efeito de dispor de dados de acordo com algum critério estabelecido;

Eliminação: Ato ou efeito de excluir ou destruir dado do repositório;

Extração: Ato de copiar ou retirar dados do repositório em que se encontrava;

Processamento: Ato ou efeito de processar dados visando organizá-los para
obtenção de um resultado determinado;

Produção: Criação de bens e de serviços a partir do tratamento de dados;

Recepção: Ato de receber os dados ao final da transmissão;

Reprodução: Cópia de dado preexistente obtido por meio de qualquer processo;

Transferência: Mudança de dados de uma área de armazenamento para outra, ou
para terceiro;

Transmissão: Movimentação de dados entre dois pontos por meio de dispositivos
elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos, radioelétricos, pneumáticos, etc.;

Utilização: Ato ou efeito do aproveitamento dos dados.

3. Princípios Gerais sobre o tratamento de dados pessoais adotados pela associação DOUTORES DA ALEGRIA:

•  Os titulares de dados pessoais sempre serão informados sobre quais dados
serão coletados e sua finalidade;
•  Os dados pessoais serão utilizados somente mediante autorização formal
de seus titulares;
•  Somente serão solicitados os dados pessoais de principal relevância para
o projeto previamente estabelecido e limitados a ele;
•  Os dados pessoais serão mantidos corretos e atualizados pelo período
necessário de acordo com sua finalidade;
•  O banco de dados pessoais será mantido em local protegido e seguindo os
mais rigorosos protocolos de segurança;
•  A identidade dos titulares de dados será preservada, principalmente
tratando-se de dados sensíveis;
•  Os titulares de dados pessoais podem a qualquer momento solicitar a
correção, atualização ou exclusão de seus dados da nossa base.

4. Quem é o responsável pelo tratamento de seus dados?

A associação DOUTORES DA ALEGRIA é a responsável legal pelo armazenamento
e eventual tratamento, bem como pela segurança de todos os dados coletados.

Mesmo em projetos e ações que sejam viabilizados em cooperação ou parceria com outras organizações e empresas, nos quais a responsabilidade pode ser dividida, os princípios gerais desta política são mantidos.

5. Quais dados coletamos e por quais motivos?

Coletamos, processamos e arquivamos as seguintes categorias de Dados Pessoais
sobre você:

6. Como armazenamos e quem tem acesso aos seus dados? Armazenamento

Seus dados pessoais (incluindo dados sensíveis) são armazenados seguindo
as medidas de segurança apropriadas para impedir que suas informações sejam
acessadas ou processadas para fins que não estejam de acordo com nossas práticas de inclusão e diversidade.

Acesso
Os bancos de dados utilizados para armazenamento possuem acesso restrito aos nossas trabalhadores e empregados e /ou parceiros que tenham um motivo legítimo e justificável para acesso e/ou tratamento de seus dados pessoais.

7. Por quanto tempo mantemos seus dados pessoais?

Suas informações pessoais serão mantidas pelo tempo que for necessário para
cumprir as finalidades estabelecidas nesta política de privacidade (a menos que um período de conservação mais longo seja exigido pela lei aplicável).

8. Quais são seus direitos em relação aos dados pessoais?

Quando necessário você receberá um documento de consentimento da associação DOUTORES DA ALEGRIA, se estiver de acordo, deve assinar ou autorizar virtualmente.
Além disso, você tem os seguintes direitos em relação aos seus dados pessoais:

9. Aperfeiçoamento da Política de Provacidade

A associação Doutores da Alegria compromete-se a periodicamente revisar e
aperfeiçoar a presente política, além de dar ampla visibilidade a este documento,
mediante a publicação do mesmo no site da organização.

10.Base legal utilizada

Esta Política de Privacidade foi baseada na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei no 13.709/2018 e orientações do Guia de Boas Práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais realizado pelo Governo Federal.

11.Outras Informações

Dúvidas a respeito da aplicação desta Política e da adequação de qualquer conduta relativa a dados pessoais deverão ser enviadas para o e-mail
doutores@doutoresdaalegria.org.br

Conheça mais sobre o palhaço

Local de atuação

Biografia

Conheça mais sobre o palhaço

Oito minutos

Local de atuação

São Paulo

Biografia