Home /

As emoções que só nascem depois de uma internação

As emoções que só nascem depois de uma internação

Por admin

2 minutos de leitura

Se você já passou por uma internação em um hospital, certamente tem essa memória bem viva aí dentro. É só fechar os olhos para ouvir o zumbido das máquinas, o escorregar da agulha na bandeja de metal, os passos apressados no corredor.

Dá para sentir o gosto do remédio que sobe pelas veias e aquele cheiro de álcool gel que irrita as narinas. E o medo da notícia que vem pela boca da médica, da luz acendendo no meio da noite, do próximo paciente que vai resmungar no leito ao lado.

Eu sei, eu sei. Também dá para lembrar do carinho da enfermeira, da cirurgia bem-sucedida, da mãe que passou três noites inteiras ao seu lado e do dia em que a luz do sol te atingiu logo na saída do hospital. Você sorriu aliviado.

Essas lembranças tão vívidas que podemos quase tocar ficam para sempre porque – dizem os neurocientistas – a memória é construída de emoções. Em meio a um turbilhão de informações, a gente se lembra daquilo que nos causou sensações. E transformamos essas emoções em histórias compartilhadas com familiares e amigos.

Em outubro de 2016, a atriz Flávia Lopes recebeu o diagnóstico de leucemia do marido, que precisou ser internado às pressas no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), no Rio de Janeiro. Foram sete meses de tratamento. Na época, o HUPE sofria com a falta de repasse de verba do Governo do Estado. Os funcionários trabalhavam em condições precárias, com salários atrasados por mais de três meses.

“Lembro de olhar e ver pessoas que independente da doença visível e diagnosticada aparentavam portar outra doença, essa invisível, mas que mata também. Mata a gentileza, mata o afeto e a possibilidade de acreditar e recriar uma vida melhor… Essa doença invisível não estava presente só nos pacientes, cheguei a vê-la também em alguns funcionários.”, conta Flávia.

Buscando formas de se conectar com o mundo fora do hospital e tentando sobreviver ao caos social, a atriz começou a escrever textos autorais em seu Facebook. Por meio de uma escrita poética e humanizada, falava sobre a fragilidade da vida no risco iminente da morte. “No início era só uma forma que encontrei de não morrer ali, invisível, como tantos outros, mas depois que eu percebi que podia alcançar algumas pessoas, virou uma rotina e meu olhar foi expandido na direção de gestos, encontros, histórias que me atravessavam.”, diz ela.

A artista mesclou aos seus contos histórias de outras mulheres presentes no hospital, formando um coro feminino com vozes de mães, esposas, pacientes, enfermeiras, técnicas em enfermagem, cuidadoras, psicólogas e médicas.

“No início era só uma forma que encontrei de não morrer ali, invisível, como tantos outros, mas depois eu percebi que podia alcançar algumas pessoas.” Flávia Lopes

Um ano depois da descoberta da doença, o marido de Flávia conseguiu um transplante de medula óssea e se curou. As intensas emoções pelas quais eles haviam passado ainda estavam bem vivas e as histórias logo se transformaram em arte: ela criou o espetáculo “Em uma manhã de sol”. A narrativa traz uma médica que precisa escolher, entre dois pacientes com risco de morte, quem receberia a única bolsa de sangue daquele dia; uma enfermeira – sem salário – que abrigou em sua casa uma paciente de outra cidade e outra que comprou uma pomada anestésica e um esparadrapo antialérgico para um paciente.

“Em uma manhã de sol” foi selecionado em um edital da associação Doutores da Alegria para integrar o projeto Plateias Hospitalares, que leva gratuitamente espetáculos para dentro de hospitais públicos do estado do Rio de Janeiro.

Em outubro de 2019, durante a campanha do #OutubroRosa, o auditório do Hospital da Mulher Heloneida Studart, localizado em São João de Meriti, foi palco dessa história. Na plateia, mulheres em tratamento oncológico e profissionais de saúde do hospital que convivem diariamente com as dores, as tristezas, as alegrias e as descobertas proporcionadas pela luta contra o câncer.

Assim como a escrita foi companheira de Flávia no HUPE, ela acredita que a oferta de arte dentro de um espaço de saúde atua como um respiro, uma oportunidade de as pessoas romperem fronteiras invisíveis e criarem relações de afeto. Foi o que vimos na cumplicidade que se instalou quando o espetáculo terminou e sobraram os aplausos intermináveis, os olhos molhados, a fila para dar um abraço na artista.

Tem sido um desafio e tanto incorporar uma programação cultural em meio à crise instaurada na saúde pública do Rio de Janeiro, mas em setembro agora o projeto Plateias Hospitalares completou dez anos com a proposta de criar um circuito hospitalar de artes.

Com uma ação contínua, apoiada em uma causa relevante para a sociedade brasileira, nesse período Doutores da Alegria conseguiu articular governos, empresas, artistas, hospitais e comunidades para realizar mais de 600 apresentações para 110 mil pessoas.

Levar um cortejo musical para idosos acometidos pela hanseníase em um antigo hospital-colônia, visitar uma ala de pacientes com tuberculose e ver uma estreia de espetáculo acontecer numa enfermaria foram alguns dos momentos emocionantes que marcaram a história do projeto.

E certamente marcaram também a memória de muitas crianças e adultos… haja memória pra tanta emoção!

Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

VocÊ também pode gostar

0
Would love your thoughts, please comment.x

Politica de privacidade

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

Considerando que:

I – DOUTORES DA ALEGRIA é uma associação civil sem fins lucrativos, e tem como propósito “intervir na sociedade propondo a arte como ‘mínimo social’ para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência. A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da
cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”


II –
Esta política de privacidade, foi elaborada nos termos da Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018 e tem por objetivo a proteção dos dados pessoais que são coletados e gerados quando você se relaciona de alguma forma com a associação DOUTORES DA ALEGRIA. Além disso, explica como seus dados pessoais são usados, compartilhados e protegidos, quais opções você tem em relação aos seus dados
pessoais e como você pode nos contatar.

1. A quem se aplica?

Se você está lendo este documento, esta política se aplica a você. As orientações
mencionadas se aplicam aos dados coletados de parceiros, doadores, alunos,
prestadores de serviços, associados, fornecedores, sócios da alegria, público em
geral, diretores, conselheiros, consultores, empregados da associação DOUTORES
DA ALEGRIA.

2. Definições e termos:

Alguns termos que irão ajudar você a entender todas as orientações desta política:

Tipos de dados:

Dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável;

Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção
religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de
seu tratamento;

Banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou
em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;

Titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de
tratamento;

Uso dos dados

Acesso: Ato de ingressar, transitar, conhecer ou consultar a informação, bem como possibilidade de usar os ativos de informação de um órgão ou entidade, observada eventual restrição que se aplique;

Armazenamento: Ação ou resultado de manter ou conservar em repositório um dado;

Arquivamento: Ato ou efeito de manter registrado um dado embora já tenha perdido a validade ou esgotado a sua vigência;

Avaliação: Analisar o dado com o objetivo de produzir informação;

Coleta: Recolhimento de dados com finalidade específica;

Controle: Ação ou poder de regular, determinar ou monitorar as ações sobre o dado;

Difusão: Ato ou efeito de divulgação, propagação, multiplicação dos dados;

Distribuição: Ato ou efeito de dispor de dados de acordo com algum critério estabelecido;

Eliminação: Ato ou efeito de excluir ou destruir dado do repositório;

Extração: Ato de copiar ou retirar dados do repositório em que se encontrava;

Processamento: Ato ou efeito de processar dados visando organizá-los para
obtenção de um resultado determinado;

Produção: Criação de bens e de serviços a partir do tratamento de dados;

Recepção: Ato de receber os dados ao final da transmissão;

Reprodução: Cópia de dado preexistente obtido por meio de qualquer processo;

Transferência: Mudança de dados de uma área de armazenamento para outra, ou
para terceiro;

Transmissão: Movimentação de dados entre dois pontos por meio de dispositivos
elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos, radioelétricos, pneumáticos, etc.;

Utilização: Ato ou efeito do aproveitamento dos dados.

3. Princípios Gerais sobre o tratamento de dados pessoais adotados pela associação DOUTORES DA ALEGRIA:

•  Os titulares de dados pessoais sempre serão informados sobre quais dados
serão coletados e sua finalidade;
•  Os dados pessoais serão utilizados somente mediante autorização formal
de seus titulares;
•  Somente serão solicitados os dados pessoais de principal relevância para
o projeto previamente estabelecido e limitados a ele;
•  Os dados pessoais serão mantidos corretos e atualizados pelo período
necessário de acordo com sua finalidade;
•  O banco de dados pessoais será mantido em local protegido e seguindo os
mais rigorosos protocolos de segurança;
•  A identidade dos titulares de dados será preservada, principalmente
tratando-se de dados sensíveis;
•  Os titulares de dados pessoais podem a qualquer momento solicitar a
correção, atualização ou exclusão de seus dados da nossa base.

4. Quem é o responsável pelo tratamento de seus dados?

A associação DOUTORES DA ALEGRIA é a responsável legal pelo armazenamento
e eventual tratamento, bem como pela segurança de todos os dados coletados.

Mesmo em projetos e ações que sejam viabilizados em cooperação ou parceria com outras organizações e empresas, nos quais a responsabilidade pode ser dividida, os princípios gerais desta política são mantidos.

5. Quais dados coletamos e por quais motivos?

Coletamos, processamos e arquivamos as seguintes categorias de Dados Pessoais
sobre você:

6. Como armazenamos e quem tem acesso aos seus dados? Armazenamento

Seus dados pessoais (incluindo dados sensíveis) são armazenados seguindo
as medidas de segurança apropriadas para impedir que suas informações sejam
acessadas ou processadas para fins que não estejam de acordo com nossas práticas de inclusão e diversidade.

Acesso
Os bancos de dados utilizados para armazenamento possuem acesso restrito aos nossas trabalhadores e empregados e /ou parceiros que tenham um motivo legítimo e justificável para acesso e/ou tratamento de seus dados pessoais.

7. Por quanto tempo mantemos seus dados pessoais?

Suas informações pessoais serão mantidas pelo tempo que for necessário para
cumprir as finalidades estabelecidas nesta política de privacidade (a menos que um período de conservação mais longo seja exigido pela lei aplicável).

8. Quais são seus direitos em relação aos dados pessoais?

Quando necessário você receberá um documento de consentimento da associação DOUTORES DA ALEGRIA, se estiver de acordo, deve assinar ou autorizar virtualmente.
Além disso, você tem os seguintes direitos em relação aos seus dados pessoais:

9. Aperfeiçoamento da Política de Provacidade

A associação Doutores da Alegria compromete-se a periodicamente revisar e
aperfeiçoar a presente política, além de dar ampla visibilidade a este documento,
mediante a publicação do mesmo no site da organização.

10.Base legal utilizada

Esta Política de Privacidade foi baseada na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei no 13.709/2018 e orientações do Guia de Boas Práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais realizado pelo Governo Federal.

11.Outras Informações

Dúvidas a respeito da aplicação desta Política e da adequação de qualquer conduta relativa a dados pessoais deverão ser enviadas para o e-mail
doutores@doutoresdaalegria.org.br

Conheça mais sobre o palhaço

Local de atuação

Biografia

Conheça mais sobre o palhaço

As emoções que só nascem depois de uma internação

Local de atuação

São Paulo

Biografia