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Uma história sobre os medos que a gente acha que sente

Uma história sobre os medos que a gente acha que sente

admin

2 minutos de leitura

– Não entrem, ela tem medo!

Foi o que nos disse a mãe de Vitória, de 6 anos, quando chegamos à brinquedoteca da pediatria. Vitória nos viu e correu para o colo da mãe.

Eu, Dr. Cavaco, e Dr. De Dérson, ficamos um tempo congelados sem saber o que fazer. Então Dr. De Dérson disse:

– Claro, Cavaco! Com essa cara de papel higiênico molhado que você tem, muita criança fica com medo.

Vitória esboçou um leve sorriso, mas logo se escondeu no colo da mãe. Resolvemos aceitar a rejeição e sair dali. Dar à criança o poder de escolha nos pareceu a melhor opção. Nunca forçamos uma interação, ainda mais no primeiro encontro.

Dois dias depois, voltamos à pediatria e encontramos Vitória na enfermaria, deitada na cama, sem a mãe. Ao nos ver, ela se escondeu debaixo do lençol e ficou lá como se fosse invisível. Eu disse:

– Dr. De Dérson, acho que Vitória foi embora.

– Claro, Cavaco! Você assustou a menina, com essa boca de sacola. Até eu me assusto com você. Sorte a dela ter ido embora, para não te ver!

Começamos a ouvir umas risadas por baixo do lençol. Era Vitória participando de forma invisível. Então falei:

– De Dérson, o que eu posso fazer para ficar mais bonito?

– Pode primeiro tomar banho, né? Esse cheiro de cachorro molhado assusta também. Depois, pode cortar esse seu cabelo. Se quiser, eu te indico o pet shop onde cortei o meu. Tem mais: essa calça frouxa também te deixa feio, Cavaco.

A essa altura, Vitória olhava por uma fresta do lençol enquanto ria. Mas bem nesse momento, a mãe dela chega falando:

– Ela tem medo, gente! Vitória, fica tranquila! Eles já vão embora.

E assim, a criança mudou do riso para o choro em um segundo. Ficamos meio sem entender naquela hora, falamos que estávamos fazendo amizade com Vitória, mas a mãe não acreditou. Afinal, a menina esboçava um choro em seu rosto.

Aceitamos, fomos embora, e quando acabamos o plantão, conversamos sobre o ocorrido, concluindo que a “lembrança do medo” tinha vindo da mãe nas duas vezes.

Na semana seguinte, levei uma roupa bem bonita, penteie a peruca e coloquei uma flor na cabeça. Quando chegamos à brinquedoteca, Vitória estava brincando. A mãe tinha ido ao banheiro.

Dr. De Dérson aproveitou a oportunidade, entrou primeiro na sala e falou para todas as pessoas presentes:

– Gente, apresento para vocês o novo Dr. Cavaco. Finalmente, ele criou vergonha na cara e está tentando ficar menos feio. Entra, Dr. Cavaco!

Entrei desfilando, sem direcionar o olhar para Vitória e, quando comecei a ouvir a risada da menina, fui em sua direção como um verdadeiro top model desengonçado. Ela ria sem medo nenhum. A mãe chegou bem na hora e presenciou a alegria da filha enquanto eu perguntava:

– Estou melhor assim, Vitória?

– Não! Hihihihi!

– E assim, com esse outro penteado?

-Não! Hihihihi

-Com a calça mais para cima?

– Não! Hahhaha

Não consegui convencer a criança da minha beleza, mas convencemos a mãe de que o medo não iria existir se não fosse lembrado naquele momento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) nomeia o medo de palhaços como uma patologia chamada “coulrofobia”. Existe até tratamento para sanar essa fobia, mas, no caso da Vitória, não era bem isso que estava acontecendo.

Ficamos amigos, ela teve alta duas semanas depois, e na hora de se despedir me disse rindo:

– Tchau, palhaço feio!

Depois dessa conquista, passei a ter orgulho da minha feiura!

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Politica de privacidade

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

Considerando que:

I – DOUTORES DA ALEGRIA é uma associação civil sem fins lucrativos, e tem como propósito “intervir na sociedade propondo a arte como ‘mínimo social’ para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência. A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da
cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”


II –
Esta política de privacidade, foi elaborada nos termos da Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018 e tem por objetivo a proteção dos dados pessoais que são coletados e gerados quando você se relaciona de alguma forma com a associação DOUTORES DA ALEGRIA. Além disso, explica como seus dados pessoais são usados, compartilhados e protegidos, quais opções você tem em relação aos seus dados
pessoais e como você pode nos contatar.

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Se você está lendo este documento, esta política se aplica a você. As orientações
mencionadas se aplicam aos dados coletados de parceiros, doadores, alunos,
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DA ALEGRIA.

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Alguns termos que irão ajudar você a entender todas as orientações desta política:

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religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de
seu tratamento;

Banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou
em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;

Titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de
tratamento;

Uso dos dados

Acesso: Ato de ingressar, transitar, conhecer ou consultar a informação, bem como possibilidade de usar os ativos de informação de um órgão ou entidade, observada eventual restrição que se aplique;

Armazenamento: Ação ou resultado de manter ou conservar em repositório um dado;

Arquivamento: Ato ou efeito de manter registrado um dado embora já tenha perdido a validade ou esgotado a sua vigência;

Avaliação: Analisar o dado com o objetivo de produzir informação;

Coleta: Recolhimento de dados com finalidade específica;

Controle: Ação ou poder de regular, determinar ou monitorar as ações sobre o dado;

Difusão: Ato ou efeito de divulgação, propagação, multiplicação dos dados;

Distribuição: Ato ou efeito de dispor de dados de acordo com algum critério estabelecido;

Eliminação: Ato ou efeito de excluir ou destruir dado do repositório;

Extração: Ato de copiar ou retirar dados do repositório em que se encontrava;

Processamento: Ato ou efeito de processar dados visando organizá-los para
obtenção de um resultado determinado;

Produção: Criação de bens e de serviços a partir do tratamento de dados;

Recepção: Ato de receber os dados ao final da transmissão;

Reprodução: Cópia de dado preexistente obtido por meio de qualquer processo;

Transferência: Mudança de dados de uma área de armazenamento para outra, ou
para terceiro;

Transmissão: Movimentação de dados entre dois pontos por meio de dispositivos
elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos, radioelétricos, pneumáticos, etc.;

Utilização: Ato ou efeito do aproveitamento dos dados.

3. Princípios Gerais sobre o tratamento de dados pessoais adotados pela associação DOUTORES DA ALEGRIA:

•  Os titulares de dados pessoais sempre serão informados sobre quais dados
serão coletados e sua finalidade;
•  Os dados pessoais serão utilizados somente mediante autorização formal
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•  Somente serão solicitados os dados pessoais de principal relevância para
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•  Os dados pessoais serão mantidos corretos e atualizados pelo período
necessário de acordo com sua finalidade;
•  O banco de dados pessoais será mantido em local protegido e seguindo os
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•  A identidade dos titulares de dados será preservada, principalmente
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•  Os titulares de dados pessoais podem a qualquer momento solicitar a
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4. Quem é o responsável pelo tratamento de seus dados?

A associação DOUTORES DA ALEGRIA é a responsável legal pelo armazenamento
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Mesmo em projetos e ações que sejam viabilizados em cooperação ou parceria com outras organizações e empresas, nos quais a responsabilidade pode ser dividida, os princípios gerais desta política são mantidos.

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Coletamos, processamos e arquivamos as seguintes categorias de Dados Pessoais
sobre você:

6. Como armazenamos e quem tem acesso aos seus dados? Armazenamento

Seus dados pessoais (incluindo dados sensíveis) são armazenados seguindo
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Acesso
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7. Por quanto tempo mantemos seus dados pessoais?

Suas informações pessoais serão mantidas pelo tempo que for necessário para
cumprir as finalidades estabelecidas nesta política de privacidade (a menos que um período de conservação mais longo seja exigido pela lei aplicável).

8. Quais são seus direitos em relação aos dados pessoais?

Quando necessário você receberá um documento de consentimento da associação DOUTORES DA ALEGRIA, se estiver de acordo, deve assinar ou autorizar virtualmente.
Além disso, você tem os seguintes direitos em relação aos seus dados pessoais:

9. Aperfeiçoamento da Política de Provacidade

A associação Doutores da Alegria compromete-se a periodicamente revisar e
aperfeiçoar a presente política, além de dar ampla visibilidade a este documento,
mediante a publicação do mesmo no site da organização.

10.Base legal utilizada

Esta Política de Privacidade foi baseada na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei no 13.709/2018 e orientações do Guia de Boas Práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais realizado pelo Governo Federal.

11.Outras Informações

Dúvidas a respeito da aplicação desta Política e da adequação de qualquer conduta relativa a dados pessoais deverão ser enviadas para o e-mail
doutores@doutoresdaalegria.org.br

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