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Gabi Zanola
Atriz e palhaça. Atua como Dra. Pamplona na Doutores da Alegria, em São Paulo, desde 2018.
Lá no hospital tem uma profissional que fala uma língua que poucos ali falam. Eu conheço um pouquinho dessa língua também, o que tem sido suficiente para eu ser a porta voz, literalmente, dela. Vou apelidá-la de Alice.
Você deve estar se perguntando que língua é essa, né? Explico: Alice tem uma deficiência auditiva e se comunica através da Língua Brasileira de Sinais.
Ela trabalha no setor da limpeza do hospital e sempre nos encontramos na UTI infantil. Com ela sempre está a mesma equipe médica, ou seja, todos ali se veem todos os dias e se conhecem bem. Será?
Digo isso porque outro dia, ao entrarmos na UTI, Alice passava um pano no chão, com um sorriso de orelha a orelha. Assim que me viu foi logo cumprimentou com o sinal de “bom dia”. Eu respondi e perguntei se ela estava bem. Ela disse que sim e desejou bom dia para mim. As pessoas que ali estavam acompanharam a conversa através dos sinais e vieram à minha procura.
– Ela é surda de verdade?
– Sim.
– Nossa! Eu não sabia que ela era surda!, respondeu uma enfermeira espantada.
– E também encontro com ela aqui todos os dias e não sabia disso!, lamentou a médica.
– Pois é… ela é surda!, reforcei.
Várias perguntas se seguiram sobre como falar algumas palavras em LIBRAS. Expliquei que sabia bem pouco e que talvez fosse legal aprender com a Alice – que, nesse momento, havia saído da UTI.
Uma das médicas sabia seu próprio nome em LIBRAS e me mostrou. Eu corriji uma letra ou outra e aproveitei para explicar um pouco sobre os sinais. Que cada palavra tem um sinal e que nossos nomes também recebem sinais pelos surdos e surdas – assim, depois de um tempo de relação, facilita a comunicação para poderem se referir a certa pessoa e não ter que fazer a datilologia.
Nesse momento Alice entra na UTI. Uma ideia veio em minha cabeça. Trouxe ela para a roda de conversa.
Contei para ela que a equipe não tinha nenhum sinal para seus nomes e perguntei se Alice poderia dar o sinal para eles. Ela disse que estava com vergonha, mas topou. E assim, timidamente, foi dando um sinal para cada pessoa. A equipe agradeceu, em LIBRAS, o “presente” que ela havia acabado de dar a todos.
Só que esse negócio de dar sinal pegou, o assunto correu pelo o hospital e, duas semanas depois, estávamos saindo da UTI quando Alice veio pediu um favor. Outras pessoas que trabalhavam na UTI não ganharam o sinal naquele dia e ela gostaria de presenteá-las também. Embarquei no jogo!
E dessa vez Alice não estava com vergonha, muito pelo contrário, estava até tirando sarro da cara dos colegas: o sinal do Dr. Dus’Cuais, meu parceiro besteirologista, tinha o mesmo significado da palavra “bobo”. Eu preferi dizer a ele que Alice o estava chamando de “bonito”, e ele ficou feliz da vida com isso.
Foi sinal pra todo lado. Percebi que Alice estava muito mais à vontade, segura e contente. Ela agora fazia parte de verdade da conversa na UTI.
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GABI, AMEI A HISTÓRIA. PARABÉNS PELA IDEIA! SOU AUDIODESCRITORA. SE QUISER CONTAR COMIGO IDA DESSES, ESTOU À DISPOSIÇÃO.
Agradece aPamplona por promover a inclusão naquele ambiente.
Tenho certeza que foi muito importante pra Alice ( deixou de ser invisível)