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Quem cuida de nós enquanto os médicos adoecem?

Quem cuida de nós enquanto os médicos adoecem?

admin

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Quem cuidará de nós, na condição de pacientes, quando os médicos estiverem doentes?

Essa pergunta pode parecer incoerente, uma vez que a figura médica é frequentemente vista como impedida de apresentar sinais de fragilidade humana. Mas acontece. E a doença pode se dar de forma sutil, às vezes imperceptível – como o estresse ou a depressão –, ou de um sobressalto, como a síndrome de burnout (esgotamento) e o suicídio.

Desde a entrada na faculdade, o profissional de Medicina já carrega um fardo pesado, que alia uma rotina intensa de estudos à maturidade forçada para lidar com a vida e a morte. No início da carreira, muitas vezes precisa se sujeitar a jornadas de plantões, pressão por produtividade, poucas horas de descanso e afastamento do seu círculo social.

Doutores da Alegria - M_Boi Mirim - Créditos para Nego Júnior © 2018 - IMG_3906

“Entre os profissionais hospitalares, o médico é visto como personagem revestido de muito poder, crítica e racionalidade. Seu poder – consolidado ao longo da história e de difícil revisão – emana justamente das decisões cruciais que toma.”, conta a psicóloga Morgana Masetti no livro Boas Misturas, A Ética da Alegria no Contexto Hospitalar. O oncologista Drauzio Varella, em um artigo para a Folha de S.Paulo sobre os últimos 50 anos da Medicina no país, ajuda a entender: “A lógica de mercado invadiu o sistema de saúde. Administradores alheios à profissão trouxeram palavras de ordem às quais [nós, médicos] não estávamos habituados: produtividade, racionalização da mão de obra, economia de escala, lucratividade, fusões, corporações, capital de risco.”

E como evidenciamos nos hospitais em que atuamos, a crise na saúde pública compõe mais um capítulo desta história. Médicos e médicas lidam com condições de trabalho inadequadas para oferecer atendimento aos pacientes, como falta de materiais básicos, aparelhos, remédios, leitos. No Hospital Universitário da USP, que vem sofrendo sucateamento nos últimos anos, mais de 25 médicos pediram demissão, sem reposição de profissionais. Serviços foram cortados e os horários de atendimento dos prontos-socorros adulto e infantil foram restringidos, além da redução de 21% no número de leitos.

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Uma matéria especial do UOL Tab tratou do suicídio de estudantes e profissionais de Medicina – um assunto tão delicado e cercado de preconceitos que a própria classe tem dificuldade de compreender. “O suicídio por si só já é um tabu. Na classe médica, é mais ainda. É muito comum esses médicos não serem atendidos adequadamente nos serviços de emergência porque há um certo desrespeito pelas tentativas. Por ser um ato intencional, é como se a pessoa tivesse liberdade plena da escolha que fez. Muitas vezes, não têm. No momento que faz a escolha, ela tem uma distorção da percepção”, explica Alexandrina Meleiro, doutora em Psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP.

Excluídas as mortes por causas externas, como doenças, tirar a própria vida foi a segunda causa da morte de médicos paulistas entre 2000 e 2009, só ficando atrás de acidente de carro: o suicídio é a causa da morte de 18% dos homens e 21% das mulheres. O levantamento foi feito pela Unifesp (Universidade Federal do Paraná) e Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas), com o apoio do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

Segundo a matéria, universidades, conselhos regionais de Medicina, sociedades e associações médicas têm promovido palestras e simpósios sobre o tema, com a perspectiva de reduzir o anseio e a vergonha dos profissionais em debater sobre sua própria saúde. E para nós, artistas, que habitamos os hospitais e nos relacionamos com diversos profissionais de saúde, fica a tarefa de compreender a fragilidade humana por trás de um jaleco e uma postura mais séria.

A linguagem do palhaço cria uma atmosfera empática: mães e pais de crianças hospitalizadas estabelecem uma intimidade imediata com os artistas por meio da brincadeira e da delicadeza da relação imposta pela doença. Extravasar este jogo para a relação com médicos, em nosso dia a dia, é um caminho que já estamos percorrendo há algum tempo e obtendo resultados: quando fica estabelecido um laço de confiança entre palhaços e profissionais de saúde, este elo se amplia para todas as relações que se dão no ambiente hospitalar, criando uma condição de convivência mais potente entre todos ali.

Talvez este seja um pequeno grande passo que revela que somos todos humanos, temos todos nossas fragilidades e somos todos capazes de cuidar uns dos outros.

GAC-PROCAPE- Lana pinho-112

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Politica de privacidade

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

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I – DOUTORES DA ALEGRIA é uma associação civil sem fins lucrativos, e tem como propósito “intervir na sociedade propondo a arte como ‘mínimo social’ para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência. A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da
cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”


II –
Esta política de privacidade, foi elaborada nos termos da Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018 e tem por objetivo a proteção dos dados pessoais que são coletados e gerados quando você se relaciona de alguma forma com a associação DOUTORES DA ALEGRIA. Além disso, explica como seus dados pessoais são usados, compartilhados e protegidos, quais opções você tem em relação aos seus dados
pessoais e como você pode nos contatar.

1. A quem se aplica?

Se você está lendo este documento, esta política se aplica a você. As orientações
mencionadas se aplicam aos dados coletados de parceiros, doadores, alunos,
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DA ALEGRIA.

2. Definições e termos:

Alguns termos que irão ajudar você a entender todas as orientações desta política:

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religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de
seu tratamento;

Banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou
em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;

Titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de
tratamento;

Uso dos dados

Acesso: Ato de ingressar, transitar, conhecer ou consultar a informação, bem como possibilidade de usar os ativos de informação de um órgão ou entidade, observada eventual restrição que se aplique;

Armazenamento: Ação ou resultado de manter ou conservar em repositório um dado;

Arquivamento: Ato ou efeito de manter registrado um dado embora já tenha perdido a validade ou esgotado a sua vigência;

Avaliação: Analisar o dado com o objetivo de produzir informação;

Coleta: Recolhimento de dados com finalidade específica;

Controle: Ação ou poder de regular, determinar ou monitorar as ações sobre o dado;

Difusão: Ato ou efeito de divulgação, propagação, multiplicação dos dados;

Distribuição: Ato ou efeito de dispor de dados de acordo com algum critério estabelecido;

Eliminação: Ato ou efeito de excluir ou destruir dado do repositório;

Extração: Ato de copiar ou retirar dados do repositório em que se encontrava;

Processamento: Ato ou efeito de processar dados visando organizá-los para
obtenção de um resultado determinado;

Produção: Criação de bens e de serviços a partir do tratamento de dados;

Recepção: Ato de receber os dados ao final da transmissão;

Reprodução: Cópia de dado preexistente obtido por meio de qualquer processo;

Transferência: Mudança de dados de uma área de armazenamento para outra, ou
para terceiro;

Transmissão: Movimentação de dados entre dois pontos por meio de dispositivos
elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos, radioelétricos, pneumáticos, etc.;

Utilização: Ato ou efeito do aproveitamento dos dados.

3. Princípios Gerais sobre o tratamento de dados pessoais adotados pela associação DOUTORES DA ALEGRIA:

•  Os titulares de dados pessoais sempre serão informados sobre quais dados
serão coletados e sua finalidade;
•  Os dados pessoais serão utilizados somente mediante autorização formal
de seus titulares;
•  Somente serão solicitados os dados pessoais de principal relevância para
o projeto previamente estabelecido e limitados a ele;
•  Os dados pessoais serão mantidos corretos e atualizados pelo período
necessário de acordo com sua finalidade;
•  O banco de dados pessoais será mantido em local protegido e seguindo os
mais rigorosos protocolos de segurança;
•  A identidade dos titulares de dados será preservada, principalmente
tratando-se de dados sensíveis;
•  Os titulares de dados pessoais podem a qualquer momento solicitar a
correção, atualização ou exclusão de seus dados da nossa base.

4. Quem é o responsável pelo tratamento de seus dados?

A associação DOUTORES DA ALEGRIA é a responsável legal pelo armazenamento
e eventual tratamento, bem como pela segurança de todos os dados coletados.

Mesmo em projetos e ações que sejam viabilizados em cooperação ou parceria com outras organizações e empresas, nos quais a responsabilidade pode ser dividida, os princípios gerais desta política são mantidos.

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Coletamos, processamos e arquivamos as seguintes categorias de Dados Pessoais
sobre você:

6. Como armazenamos e quem tem acesso aos seus dados? Armazenamento

Seus dados pessoais (incluindo dados sensíveis) são armazenados seguindo
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Acesso
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7. Por quanto tempo mantemos seus dados pessoais?

Suas informações pessoais serão mantidas pelo tempo que for necessário para
cumprir as finalidades estabelecidas nesta política de privacidade (a menos que um período de conservação mais longo seja exigido pela lei aplicável).

8. Quais são seus direitos em relação aos dados pessoais?

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Além disso, você tem os seguintes direitos em relação aos seus dados pessoais:

9. Aperfeiçoamento da Política de Provacidade

A associação Doutores da Alegria compromete-se a periodicamente revisar e
aperfeiçoar a presente política, além de dar ampla visibilidade a este documento,
mediante a publicação do mesmo no site da organização.

10.Base legal utilizada

Esta Política de Privacidade foi baseada na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei no 13.709/2018 e orientações do Guia de Boas Práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais realizado pelo Governo Federal.

11.Outras Informações

Dúvidas a respeito da aplicação desta Política e da adequação de qualquer conduta relativa a dados pessoais deverão ser enviadas para o e-mail
doutores@doutoresdaalegria.org.br

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