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Gabriela Caseff
Editora do Blog. Atua na comunicação da Doutores da Alegria desde 2011 e é repórter na Folha de S.Paulo
Ao abrir a porta de um quarto de hospital, os palhaços talvez sintam as mesmas sensações que você quando abre a porta de casa de manhã.
Enquanto a maçaneta gira, o cérebro põe a pensar o que vem pela frente.
O relatório pra entregar, o mercado a fazer, hmm, é tempo de morango. Ai, o trânsito. A vó que convidou pra macarronada, a chuva que vem no fim da tarde. Putz, o boleto venceu. É segunda-feira, que preguiça! Mas tem aquele encontro na quarta… E o filme que ainda não vi, o abraço que vou ganhar hoje, a dieta que finalmente deu certo. A primeira aula, a planta que floresceu, o elogio do chefe. É quinta-feira e amanhã tem festa!
Isso tudo passa pela cabeça em milésimos de segundo.
Claro que, no meio do corredor da Pediatria, muitas outras ideias também passam pela cabeça. É só começar a girar a maçaneta que elas vêm: era para o Pedro ter tido alta. A Fefa ainda estava dormindo, mas a mãe queria tanto aquela música… Ainda não vi o Guga. Hoje é folga da doutora Ana. Hmm, tem bolo na copa. Esse jaleco tá abafado hoje! Cadê aqueles gêmeos?
E enquanto a gente pensa, os neurotransmissores e companhia química limitada já estão reagindo, mandando impulsos e trazendo ao corpo muitas sensações. A gente pode sentir euforia ou estresse, alegria ou tensão. Tudo depende de como reagimos ao turbilhão que passou pela cabeça.
No hospital, atrás de cada porta tem alguém que também está sentindo coisas. Pode ser simplesmente tédio, mas é possível que seja medo ou tristeza, e claro que também pode ser esperança ou alívio. Sob a máscara do palhaço, o artista desvenda cada quarto com delicadeza, brincando com o que pode, alcançando a graça onde ela se esgueira, buscando o lado mais potente e saudável de cada um.
Os palhaços levam um bocado de sensações para o seu trabalho. Sim, faz parte de seu ofício fazer rir, só que atrás de uma das portas pode ter alguém com muita dor ou triste pelo resultado de um exame. É por isso que a gente em parte rejeita a alcunha de que “levamos alegria aos hospitais”. Porque não é sempre ela o processo químico mais potente que vence o duelo das emoções.
Acontece que o treino constante sob a máscara abre a possibilidade de deixar o copo sempre meio vazio, pronto para ser preenchido com o que o outro oferece.
Que tal fazer esse teste? Amanhã, antes abrir a porta de casa, encha só a metade do seu copinho de emoções. Ao longo do dia, vá enchendo aos poucos o copo a partir dos encontros com outras pessoas e, em seu retorno, quando girar a maçaneta de volta, faça um balanço.
E vem contar aqui pra gente quem ganhou a batalha das emoções.
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Show Gabi?
Uma reflexão que vai além do atendimento hospitalar. Parabéns Gabriela, pela sensibilidade e lembrança de que além da porta, há sensações e uma biografia que deve ser respeitada em sua singularidade.