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Além dos hospitais: um retrato do que bate à nossa porta

Além dos hospitais: um retrato do que bate à nossa porta

Por admin

2 minutos de leitura

O que entra pela porta de um hospital público é o reflexo da comunidade. Falta de saneamento básico, descuido com a alimentação, poucos espaços de lazer, violência doméstica, sexual, de identidade, intelectual: está tudo ali.

E o que entra pela porta da sede do Doutores da Alegria, há precisamente 14 anos, também é um retrato da cidade de São Paulo.

Todos os dias, pouco mais de 20 jovens de diversos cantos desta metrópole se encontram aqui para ter aulas profissionalizantes de palhaço. O curso é gratuito e focado em jovens com o sonho de ganhar o mundo com seu nariz vermelho. Adolescentes, quase adultos, que não têm garantidos os direitos mais básicos nas comunidades em que vivem, mas apostam numa formação de qualidade e na arte como seu ofício.

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E se o que entra pelo hospital se torna matéria prima para o palhaço besteirologista, o que entra pela porta da nossa sede é alimento para Doutores da Alegria enquanto instituição. Um destes estudantes trouxe uma experiência que faz parte da rotina de jovens e pobres da periferia: uma abordagem policial. Eis o seu relato:

“Hoje fui abordado pela polícia e tinha tudo pra ser uma enquadro “normal”. Perguntou onde eu moro, onde trabalho e o que estava fazendo ali. Respondi tudo da melhor forma possível. O policial me revistou, revistou minha mochila deixou uma zona.
Até que ele pediu para ver meu celular e pediu para eu desbloquear para que ele visse em que nome o iMei do celular estava.

Perguntou de quem era o celular. Eu disse que era meu. Ele perguntou quem me deu já que eu não trabalho. Pobre e preto de iPhone é uma ofensa. Eu disse que comprei. Ele perguntou como. Eu tive que explicar que trabalhei. Perguntou em que loja eu comprei. Eu disse que comprei de um amigo. Ele insinuou que meu amigo roubou e foi para o carro.

Chegando lá, ele viu que o celular não fui eu quem comprei, foi comprado por outra pessoa. Foi em minha direção pegou meu punho de uma forma grosseira e ignorante ao ponto de fazer meu relógio sair do pulso. Ele pisou no meu relógio ao ponto de quebrar e arranhar. Me colocou no porta mala da viatura e disse que eu iria para delegacia.

Eu implorei perguntando se eu poderia ligar ou mandar mensagem para a pessoa que comprou. Ele disse para eu mandar mensagem na frente dele. Eu mandei. Meu amigo respondeu rapidamente. O policial foi para o rádio e confirmou o cpf. Depois de um tempo, me liberou como se nada tivesse acontecido. Meu relógio quebrado não era meu maior problema.

O problema é que amanhã vou passar nessa rua novamente e sei como vou ser lembrado por aquelas pessoas que viram.”

É sabido que jovens e negros são as principais vítimas de violência no país. O Brasil registrou*, em 2015, quase 60 mil homicídios. Foram 60 mil assassinatos em um ano. Os homens jovens (15 a 29 anos) continuam sendo as principais vítimas: mais de 92% dos homicídios representam essa parcela da população.

A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Negros possuem 23,5% mais chances de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontados os efeitos da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

[* dados do Atlas da Violência 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. ]

Os números e casos como o deste estudante ilustram uma realidade que às vezes esquecemos ou tentamos fingir que não está ali, mas que bate à porta todos os dias. A violência contra a população jovem e negra cria marcas profundas que vão sendo reeditadas na sua pele todos os dias. A situação é ainda agravante para as mulheres negras, que sofrem com o racismo e com o machismo em nossa sociedade.

A história do Brasil é carregada de violência contra a população negra, desde a violência que foi socialmente aceita, como a escravidão e as políticas de branqueamento da população (a serem tratadas no próximo capítulo), até a violência implícita que se dá através do preconceito racial. Negros ocupam os maiores bolsões de pobreza do país, são maioria nas penitenciárias e sofrem por não ter representatividade.

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Nossa sociedade precisa agir de maneira efetiva para diminuir estas pequenas e grandes tragédias. Movimentos sociais e coletivos se mobilizam para exigir políticas públicas para frear a discriminação em todas as esferas de poder, sobretudo pautadas na educação de base, trazendo luz à história africana do ponto de vista dos negros.

A arte é outro campo que pode contribuir com este movimento, desconstruindo conceitos e questionando a visão eurocêntrica. A Escola dos Doutores da Alegria se ocupa em formar artistas engajados, com capacidade de ler a realidade em que estão inseridos e propor uma intervenção crítica.

E se inspirar políticas públicas é nosso dever como organização, é preciso beber da fonte de movimentos sociais e dialogar com estes jovens. O caminho para uma sociedade responsável e de relações saudáveis já bate à porta de todos nós.

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Politica de privacidade

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

Considerando que:

I – DOUTORES DA ALEGRIA é uma associação civil sem fins lucrativos, e tem como propósito “intervir na sociedade propondo a arte como ‘mínimo social’ para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência. A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da
cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”


II –
Esta política de privacidade, foi elaborada nos termos da Lei no 13.709, de 14 de agosto de 2018 e tem por objetivo a proteção dos dados pessoais que são coletados e gerados quando você se relaciona de alguma forma com a associação DOUTORES DA ALEGRIA. Além disso, explica como seus dados pessoais são usados, compartilhados e protegidos, quais opções você tem em relação aos seus dados
pessoais e como você pode nos contatar.

1. A quem se aplica?

Se você está lendo este documento, esta política se aplica a você. As orientações
mencionadas se aplicam aos dados coletados de parceiros, doadores, alunos,
prestadores de serviços, associados, fornecedores, sócios da alegria, público em
geral, diretores, conselheiros, consultores, empregados da associação DOUTORES
DA ALEGRIA.

2. Definições e termos:

Alguns termos que irão ajudar você a entender todas as orientações desta política:

Tipos de dados:

Dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável;

Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção
religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso,
filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de
seu tratamento;

Banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou
em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;

Titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de
tratamento;

Uso dos dados

Acesso: Ato de ingressar, transitar, conhecer ou consultar a informação, bem como possibilidade de usar os ativos de informação de um órgão ou entidade, observada eventual restrição que se aplique;

Armazenamento: Ação ou resultado de manter ou conservar em repositório um dado;

Arquivamento: Ato ou efeito de manter registrado um dado embora já tenha perdido a validade ou esgotado a sua vigência;

Avaliação: Analisar o dado com o objetivo de produzir informação;

Coleta: Recolhimento de dados com finalidade específica;

Controle: Ação ou poder de regular, determinar ou monitorar as ações sobre o dado;

Difusão: Ato ou efeito de divulgação, propagação, multiplicação dos dados;

Distribuição: Ato ou efeito de dispor de dados de acordo com algum critério estabelecido;

Eliminação: Ato ou efeito de excluir ou destruir dado do repositório;

Extração: Ato de copiar ou retirar dados do repositório em que se encontrava;

Processamento: Ato ou efeito de processar dados visando organizá-los para
obtenção de um resultado determinado;

Produção: Criação de bens e de serviços a partir do tratamento de dados;

Recepção: Ato de receber os dados ao final da transmissão;

Reprodução: Cópia de dado preexistente obtido por meio de qualquer processo;

Transferência: Mudança de dados de uma área de armazenamento para outra, ou
para terceiro;

Transmissão: Movimentação de dados entre dois pontos por meio de dispositivos
elétricos, eletrônicos, telegráficos, telefônicos, radioelétricos, pneumáticos, etc.;

Utilização: Ato ou efeito do aproveitamento dos dados.

3. Princípios Gerais sobre o tratamento de dados pessoais adotados pela associação DOUTORES DA ALEGRIA:

•  Os titulares de dados pessoais sempre serão informados sobre quais dados
serão coletados e sua finalidade;
•  Os dados pessoais serão utilizados somente mediante autorização formal
de seus titulares;
•  Somente serão solicitados os dados pessoais de principal relevância para
o projeto previamente estabelecido e limitados a ele;
•  Os dados pessoais serão mantidos corretos e atualizados pelo período
necessário de acordo com sua finalidade;
•  O banco de dados pessoais será mantido em local protegido e seguindo os
mais rigorosos protocolos de segurança;
•  A identidade dos titulares de dados será preservada, principalmente
tratando-se de dados sensíveis;
•  Os titulares de dados pessoais podem a qualquer momento solicitar a
correção, atualização ou exclusão de seus dados da nossa base.

4. Quem é o responsável pelo tratamento de seus dados?

A associação DOUTORES DA ALEGRIA é a responsável legal pelo armazenamento
e eventual tratamento, bem como pela segurança de todos os dados coletados.

Mesmo em projetos e ações que sejam viabilizados em cooperação ou parceria com outras organizações e empresas, nos quais a responsabilidade pode ser dividida, os princípios gerais desta política são mantidos.

5. Quais dados coletamos e por quais motivos?

Coletamos, processamos e arquivamos as seguintes categorias de Dados Pessoais
sobre você:

6. Como armazenamos e quem tem acesso aos seus dados? Armazenamento

Seus dados pessoais (incluindo dados sensíveis) são armazenados seguindo
as medidas de segurança apropriadas para impedir que suas informações sejam
acessadas ou processadas para fins que não estejam de acordo com nossas práticas de inclusão e diversidade.

Acesso
Os bancos de dados utilizados para armazenamento possuem acesso restrito aos nossas trabalhadores e empregados e /ou parceiros que tenham um motivo legítimo e justificável para acesso e/ou tratamento de seus dados pessoais.

7. Por quanto tempo mantemos seus dados pessoais?

Suas informações pessoais serão mantidas pelo tempo que for necessário para
cumprir as finalidades estabelecidas nesta política de privacidade (a menos que um período de conservação mais longo seja exigido pela lei aplicável).

8. Quais são seus direitos em relação aos dados pessoais?

Quando necessário você receberá um documento de consentimento da associação DOUTORES DA ALEGRIA, se estiver de acordo, deve assinar ou autorizar virtualmente.
Além disso, você tem os seguintes direitos em relação aos seus dados pessoais:

9. Aperfeiçoamento da Política de Provacidade

A associação Doutores da Alegria compromete-se a periodicamente revisar e
aperfeiçoar a presente política, além de dar ampla visibilidade a este documento,
mediante a publicação do mesmo no site da organização.

10.Base legal utilizada

Esta Política de Privacidade foi baseada na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei no 13.709/2018 e orientações do Guia de Boas Práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais realizado pelo Governo Federal.

11.Outras Informações

Dúvidas a respeito da aplicação desta Política e da adequação de qualquer conduta relativa a dados pessoais deverão ser enviadas para o e-mail
doutores@doutoresdaalegria.org.br

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